domingo, 1 de janeiro de 2017

QUEM CUIDA DA ALMA?

De Udo Rauchfleisch, Dr.rer.nat, psicanalista e professor de Psicologia Clínica na Universidade de Basileia e atende em consultório privado em Binningen, na região de Basileia, Suíça.
Esse livro representa um enriquecimento também para os especialista da área psiquiátrica e psicoterapêutica quando incluem no tratamento os representantes dos serviços eclesiais e aproveitam a experiência que esses profissionais fazem em seus contatos com os enfermos. Desse modo, é possível obter um quadro mais abrangente, integral dos pacientes para o tratamento.
Pessoalmente aprendi muito na leitura desse livro, onde pude comparar casos que vimos e podendo diagnosticar como problemas psíquicos e não espirituais. Ainda existem um grande tabu para ser quebrado que tudo é levado para o lado espiritual, sinto muito mais não é. Com esse livro você obterá uma clara e objetiva prova do que estou falando juntando a psicanálise e religião para um bem comum, cuidar da alma. 

A relação entre psicoterapia e religião: panorama histórico, Para conseguir analisar a relação entre as duas, teremos que voltar aos primórdios da psicanálise, onde ouve uma discussão sobre a religião, eu falo de Freud, Jones e Reik de em meados de 1907 a 1927 aproximadamente. Os referidos autores submeteram também as práticas e os conteúdos religiosos a uma análise reducionista, chegando à conclusão de que a fé religiosa seria uma espécie de "delírio em massa", no qual o indivíduo busca refúgio para não ficar entregue à neurose individual. A religião seria uma neurose coletiva que, em última análise, ocasionar descontentamento no desenvolvimento do ser humano, a ser resolvida com a ajuda da psicanálise.
Em resumo das diferentes escolas de terapia podemos dizer que as "grandes" escolas terapêuticas da psicanálise e da terapia cognitivo-comportamental (angústias, compulsões, distimias depressivas e diversos transtornos comportamentais), não mostram qualquer interesse pela dimensão religiosa ou a rejeitam. Apenas algumas como C.G. Jung e a psicoterapia orientada por processos, reservam ao religioso um lugar central. Por esse motivo têm pouca influência sobre o "cenário" da psicoterapia.

O tabu religioso na psicoterapia e suas consequências: O Dr. Udo trás um conteúdo a respeito do estudo psicoterapêutico concluindo então o pensamento sobre o panorama histórico trazendo uma linguagem mais cientifica do assunto, agora abordando o tabu na religião onde muitos pacientes no decorrer de suas sessões apresentam traços religiosos e é extremamente ignorados pelos psicoterapêuticos. Exemplo: Um paciente de 50 anos e poucos relata, numa sessão, um sonho que, segundo ele, o deixara perplexo. ele não dava "a mínima" para temas religiosos e, por essa razão o seguinte sonho o teria deixado muito perturbado: no sonho, ele teria visto a si próprio andando por um despenhadeiro estreito, tendo do lado direito um aclive íngreme formado por pedregulhos e detritos e do lado esquerdo um abismo que lhe causava vertigem. Ele sentia muito medo e avançava com todo cuidado. Subitamente o aclive pedregoso à sua direita teria começado a deslizar, blocos de detritos teriam desabado e a superfície pedregosa começou a despencar na sua direção. Não havia meio de escapar e ele já tinha dado sua vida por finalizada. No momento de maior perigo, aparecera de repente o vulto de Cristo diante dele no caminho, erguera a mão e com esse gesto detivera o deslizamento da superfície pedregosa.
Num procedimento reducionista, a interpretação no nível objetal aplicado por Freud veria, por exemplo, no vulto de Cristo o representante de um poder protetor paternal e prosseguiria aclarando isso com o paciente. De fato, na época em que se deu esse sonho, tratou-se para ele do conflito com sua imagem paterna, com um pai que ele havia vivenciado preponderantemente como vacilante, fraco e impotente e que, desse modo, dificilmente lhe poderia ter servido de modelo construtivo de uma masculinidade capaz de se impor. Quando o Dr. falou para o paciente se nesse sonho estivesse se articulando um interesse existencial-religioso originário. "Quando o confrontei com essa pergunta, ele reagiu com extrema irritação. De jeito nenhum! Ele não pensa em tais coisas". " Depois disso, o paciente ficou pensativo e permaneceu por longo tempo em silêncio. Por fim, ele se manifestou dizendo que foram raras as vezes que ele tinha ficado tão desconcertado na terapia como ficara com a minha intervenção. Sua autoimagem até aquele momento fora determinada pelo fato de "estar com os dois pés no chão" e nunca ter se dedicado a "brincar com ideias metafísicas". Mas, deixando a imagem do sonho agir mais uma vez sobre ele depois da minha intervenção, ele teria se sentido profundamente emocionado. Concluindo se o Dr. não tecesse quebrado o tabu e seguido para uma linha religiosa jamais iria obter qualquer resposta.

O que a psicologia e a psicoterapia podem oferecer à igreja? Após o relato de uma paciente o Dr. Udo trabalhou em conjunto com o pastor ao qual a paciente se tratava no lado religioso e pode fazer alguns estudos para chegar numa resposta e ajuda-la. Essa é uma história muito comovente onde uma moça de 15 anos com pais extremamente religiosos, seu pai médico de um hospital, dedico toda sua vida para ajudar o próximo e que tinha uma imagem aos olhos dela como um santo, um mártir, que se engajava para o outros deixando o seu próprio interesse em segundo plano. " A situação teria ficado difícil para ela sobretudo porque a mãe, com toda a naturalidade, esperava que a filha se engajasse da mesma maneira na comunidade. A paciente relatou que teria tentado cumprir essas exigências, mas que mais ou menos a partir dos 20 anos de idade teria se sentido incapaz de fazê-lo por razões que lhe eram inexplicáveis". "ela teria percebido que o pastor tinha uma imagem de Deus totalmente diferente da dela, Deus teria sido para ela um poder que exige obediência, controlador, castigador, e intimidador." " O pastor em contraposição, teria falado de um Deus amoroso e que acolhe incondicionalmente as pessoas e cuja graça não precisa ser comprada com boas obras".
As investigações realizadas sobre as imagens de Deus apontam para o fato de elas não serem unidimensionais, mas conterem várias dimensões. Acompanhando Peterson (1993), podemos diferenciar cinco dimensões, que também ficam claras nas imagens que a paciente e o pastor têm dentro de si:

  1. Significado de Deus: representações místicas, proteção e ordem, distante e abstrato, criação e sentido.
  2. comportamento de Deus: dar a poio, dominar/castigar, passividade;
  3. sentidos de Deus: atenção de Deus, sentimentos de rejeição de Deus;
  4. sentimentos em relação a Deus: proteção/proximidade, sentimentos de rejeição, temor/culpa;
  5. relação com Deus: condução/ não condução, avaliar e castigar/ aceitação não valorativa, compreensão empática, proximidade experimentável, atenção e efeitos pró-sociais.

No final das contas, o poimênico e eu, psicoterapeuta, buscamos o mesmo objetivo, a saber, ajudar a paciente, cada um no seu campo de trabalho, a amenizar sua instância consciente marcada pela imagem de Deus rígida, castigadora e exigente, determinada pela religião, com suas intensas autovalorizações e sentimentos de culpa e permitir que ela aprendesse um novo modo de lidar consigo mesma.

O Dr. Udo aplica na literatura outros temas como: Combinações nefastas entre poimênica e psicoterapia, Aspectos terapêuticos do religioso e Possibilidades e problemas da cooperação entre psicoterapeutas e poimênicos.
Espero que tenham gostado da dica, recomendo para todos os obreiros e pastores e estudantes da área da medicina psicanalítica. Deus abençoe a todos e uma boa leitura!



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